Há memórias que
nunca se acendem.
Velas esquecidas num canto.
Outras ardem baixinho
em poças de água
onde o céu se afoga
em silêncio.
BL
16.08.25
Há memórias que
nunca se acendem.
Velas esquecidas num canto.
Outras ardem baixinho
em poças de água
onde o céu se afoga
em silêncio.
BL
16.08.25
Ainda andas por aí?
Hoje
passaram passos leves
mas nenhum sabia o teu nome.
Deixaste um traço numa pedra
no outro dia.
Pensei que eras tu.
Era só sombra.
Mas esperei
mesmo assim.
Continuo a escrever.
Continuo a amar-te
como se a árvore fosse a nossa casa comum.
Se me tocares no ombro
reconhecerei o peso exato da tua saudade.
BL
06.08.25
Desenho em traços sem nexo
um jardim de afetos
que em prosas e versos
e em esquinas perdidas
me incendeia as veias.
Em mim flui ainda
um rio
que em morosos movimentos
se solta de cais e amarras
e se dispersa por folhas brancas
onde acendo velas
e suspendo boias
visíveis nas vidraças das janelas.
Enegrece o azul
num tempo de imagens e de enigmas
que se refletem em espelhos
presos na moldura de nuvens
onde o horizonte sombreia.
E eu
sentada em degraus de pedra
desdobro a vida que passa num leito de ecos
pela noite branca.
BL
20.07.2010
Fica-me a aparência de ser,
imagem
do que não sinto,
do que não sei.
Experiência de uma vida
entre ausências
repartida,
esquecida.
Despeço-me
de mim,
sem que me tenha encontrado,
culpada
do que não fiz,
do que não procurei.
Pedaços
de sonho,
de ilusão.
O que me fará correr?
Por que hei de sorrir?
B.L.
09.02.90
Poesia é estar contigo,
é dar-te o beijo que não me pediste,
dizer-te as saudades que sinto,
a meio do dia.
É a flor
que está para além das palavras,
o silêncio cúmplice
de um pôr do sol.
É cantar com os melros
e dançar com as cores
que pintam o meu jardim.
É o ritmo melódico
dos afetos,
a cadência harmoniosa da solidariedade.
“Mãe, fala-me de mim.
Gosto tanto que me fales de mim!...”
E foram lampejos
de risos
e de lágrimas.
Searas de ternura
em campos de areia e de neve.
Colheitas de amor
e saudade.
Doçura de rostos,
passinhos trémulos,
gestos sem norma.
“Porquê, Mãe?
Explica-me...”
Procuro a palavra,
a definição.
É preciso clarificar
a situação.
“Cuidado, mãe!
Não me deixes cair!
Nunca, mãe…”
B.L.