Somos o rasto do que não se toca,
linhas paralelas com sede de curva,
um sopro que roça a pele do instante
sem nunca se deter.
Milímetros separam-nos,
mas é o tempo que nos empurra —
esse tempo sem eixo,
sem repouso, sem fim.
Tu és o vento que quase me
encontra,
eu sou a pedra que quase se move.
E no quase, somos tudo:
possibilidade, vertigem,
o mapa de um mundo que não se fecha.
Se um dia colidirmos,
seremos poeira de estrelas,
não mais gesto,
mas memória do gesto.
O nosso lugar é o entre,
o intervalo,
o silêncio entre dois astros em fuga.
BL
30.09.25